Essa foi a terceira viagem do atleta e professor ao país oriental, que busca, há mais de 30 anos, o aprimoramento da técnica que pratica e ensina no Karatê.
O atleta Fabrício Bertoluci, de 37 anos, representou Gramado e o Rio Grande do Sul no Japão e está entre os melhores do mundo. O gramadense conquistou a segunda colocação na categoria Jukuren Kata, no 60° Campeonato Nacional Wado-Ryu e 9° Campeonato Mundial Wado-Ryu.
A competição ocorreu no último final de semana, entre os dias 24 e 25 de agosto, e essa é a terceira vez que ele viaja ao Japão. Em todas as idas, o intuito sempre foi o mesmo: aprimorar a técnica e a modalidade Wado Ryu de Karatê, que participa.
A primeira fase foi no sábado. Já a segunda fase, quartas de final, semifinal e final no domingo. “A final foi intensa, estava muito nervoso, confesso. Porque eu vim com zero expectativas. Eu fui o único estrangeiro a passar das quartas de final, então era eu e sete japoneses”, relembra o jovem.
Na categoria que Fabrício participou, Jukuren Kata, participam apenas atletas de 3° Dan para cima – aqueles que possuem décadas de treinamento. Na ocasião, apresentaram formas.
O gramadense luta há mais de 30 anos e, no quesito de competições, não costuma participar daquelas de caráter esportivo. “O Karatê esportivo valoriza algo diferente do que deveria ser em uma arte marcial, acaba se tornando um esporte com pouco contato e valor marcial, e mais um jogo do que uma luta”, explica o professor e atleta.
Expectativas e resultado
“São só professores, mestre, pessoas de alto nível técnico. Como não tinha expectativa, fiz minha primeira apresentação, passei. No outro dia, também não esperava passar. Ganhei a primeira. Na semifinal, ganhei, e não esperava, pois é um profissional bem conhecido no Japão e que já tinha vencido de outro bastante reconhecido”, pontua o gaúcho.
Na final, enfrentou Koga Sensei. “Ele me recebeu em 2018, treinamos juntos, é uma pessoa que respeito muito. Foi muito legal, ele mereceu a vitória”, fala e complementa que quando saiu do tatame, sentiu que perdeu para si próprio. “Cometi um erro na sequência. Não foi isso que me custou, pois o Koga já tinha sido melhor que eu, mas ali decretei que já tinha perdido porque tinha cometido um erro. Mas saí tão feliz, porque cheguei num nível que não tinha imaginado”.
Abraços, choros e muita comemoração de Fabrício com os amigos no Japão encerraram o segundo lugar no pódio. “Meus conhecidos vinham e diziam ‘que pena’, e eu só disse, por que pena? Eu estava feliz da vida, foi maravilhoso, cheguei num lugar que nunca imaginei chegar. Pude apresentar um Karatê bom”, conclui.
História no Japão
A ida para o país japonês não é de agora. Em 2018, passou dois meses lá. Com a pandemia de Coronavírus (Covid-19), desde 2020, postergou seu retorno do Brasil para o Japão. Já em 2023, ficou um mês e meio e foi convidado a participar do Campeonato Nacional Japonês, como aluno de uma escola local.
“Não tive resultados expressivos, contudo com os contatos e amizades que fiz, voltei a participar este ano do Mundial, sem grandes expectativas”, revela Fabrício.
Na segunda-feira, dia 1º de setembro, Bertoluci completa 45 dias em que está 12 horas a mais no fuso horário. Diariamente, treina seis horas, ou com professores convidados e amigos, ou sozinho. Ainda, duas vezes por semana treina no Hombu Dojo, local onde o mestre Honori Otsuka III – neto do criador do estilo e quem lidera o Wado-Ryu no mundo – dá aulas. “Alguns momentos de intensidade, outros buscando o refinamento técnico. O treinamento não é apenas intensidade que conta, mas a qualidade e atenção ao movimento”, coloca.
Busca por perfeição
Para Fabrício, a segunda colocação também é uma bela lição para os seus alunos, tanto de Gramado, quanto Canela. “Às vezes, quando a gente pratica o Karatê no estilo Wado-Ryu, existe uma busca pela perfeição, uma busca por alto nível, por execução e apresentação corretas, pelo entendimento correto da técnica. E isso é positivo, mas em alguns momentos pode-se colocar uma pressão e a gente se sentir mal quando erra. E tenho alunos que sentem essa pressão e posso dizer agora para eles, que estão treinando entre amigos, pessoas que se querem bem, e que fui lá, na frente dos mestres e de todas as pessoas e errei, mas não tem que ficar triste por errar, é tentar de novo”, confirma o gramadense.
Retorno ao RS e futuro
Fabrício Bertoluci deve voltar ao Rio Grande do Sul na próxima segunda-feira, dia 1º de setembro. “Se for possível, pois está passando um tufão em torno de Tóquio, que pode atrasar”, explica.
Entre os próximos passos previstos para o seu retorno, está a expansão das aulas, com aumento de dias e alunos, para divulgar o conhecimento e a arte marcial. “Karatê tem uma versatilidade muito grande, então colocando aulas infantis, teen, adulto, vai ser interessante para que as pessoas possam experimentar de diversas formas. É uma arte muito interessante”, afirma o professor.
O gramadense dá continuidade ao trabalho de Ademar Cavallin, na Escola Dojinmon, presente em Gramado há mais de 40 anos e criada pelo mestre Takeo Suzuki, primeiro professor de Karatê do Rio Grande do Sul. Cavallin foi professor de Fabrício até 2019, quando faleceu. “É parte da minha história, gosto muito e respeito ele para sempre. Continuar com o trabalho dele, no Wado-Ryu é também uma forma de homenagear”, finaliza.
Quem é Fabrício
Fabrício é natural de Gramado. Começou no Karatê aos 5 anos de idade, influenciado pelos programas televisivos e desenhos da antiga emissora TV Manchete. Aos 10, precisou interromper os treinamentos e se afastar, devido a um câncer. Quando curado, retornou e, próximo aos 20 anos, decidiu que desejava ter o esporte como realização profissional. “Estava na faculdade e vi que queria isso para o resto da minha vida. Desde então, nunca mais parei”, conta.
Além do Karatê, formou-se três graduações: em Direito, Fisioterapia e Educação Física, com pós-graduação em Fisioterapia Esportiva. Atualmente, trabalha com treinamentos, reabilitação esportiva e como professor da modalidade esportiva.
Fabrício é um apaixonado por Karatê e pela modalidade Wado-Ryu. “É uma arte que se encaixa no meu jeito de olhar e pensar. Porque existem várias visões sobre o Karatê. Mas no estilo que eu pratico é uma arte complexa, porque é simples e difícil de ser visto corretamente. Em competição conseguimos ver muitos bons e maus exemplos da técnica. E essa profundidade, justamente pela simplicidade, faz com que seja algo muito gratificante”, pontua o atleta.
Redação HN
Fonte: Laura Silveira
Fotos e Vídeo: Reprodução